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3 de set. de 2011

YOGA BRAZIL --- ENCONTRANDO A TRANQUILIDADE DA MENTE


Se examinarmos nossas vidas, nosso descontentamento real, a angústia e o transtorno que experienciamos não se devem a condições externas. Ao invés disso, reagimos a essas condições internamente, e essa é a fonte da nossa infelicidade.

Pegue a pimenta vermelha, por exemplo. Para alguns, comida sem pimenta não vale a pena comer. Não tem qualquer sabor ou qualidade, é branda. Para outros, comida temperada com pimenta é terrível. Fará com que elas tussam e engasguem, e com que seus olhos lacrimejem. Elas poderão até pensar que quem quer que tenha posto pimenta na sua comida tinha más intenções! A pimenta em si não é diferente; é apenas o que é. Uma pessoa encontra prazer na pimenta, enquanto outra encontra dor e desconforto. Cada pessoa reage a ela de uma maneira diferente, dependendo dos seus próprios gostos e temperamento.

Não é o que acontece concretamente que nos faz felizes ou tristes. Pelo contrário, é nossa própria mente. Se nós realmente queremos realizar um estado de paz, se queremos entender nossa própria natureza perfeita, que vai além dos extremos da mente ordinária — feliz e triste, bom e mau —, devemos mudar a mente.

A mente ordinária percorre uma trilha pequena. De modo a descobrir as capacidades plenas da mente, devemos ampliar a nossa visão. Somos como alguém olhando por uma pequena porta numa cerca. Podemos ver apenas um pouco. Mas se pusermos a cerca de lado, teremos uma visão muito mais ampla, mais compreensiva.

A maioria de nós não está realmente consciente do quão afortunado e especial é ser humano. Como seres humanos, temos grandes capacidades que outros seres não têm. A mente é extremamente poderosa e conduz todas as nossas ações; temos a capacidade de dirigir nossas mentes.

A maioria das mentes humanas tem uma forte tendência de identificar problemas. Em si, isto não cria dificuldades, exceto que nos tornamos presos. Estamos constantemente resolvendo problemas. Quando estreitamos a mente para focarmos os nossos problemas, perdemos nossa visão mais ampla. E se não conseguimos resolver um problema, não conseguimos dormir, não conseguimos aproveitar a vida.

Isso é um pouco como olhar para uma fenda diminuta numa xícara de chá. A xícara ainda comporta chá. Não vaza. Mas se você foca na rachadura, você traz o poder da sua mente para ela, e então é como olhar para a fenda sob um microscópio. Não parece mais uma rachadura; parece o Grand Canyon. Da mesma maneira, quando focamos nossa mente num problema, perdemos nossa perspectiva e então o problema parece enorme. Sentimos que não conseguimos lidar com ele e então ficamos transtornados.

Embora, como humanos, tenhamos corpos e mentes muito bons, e embora as condições de nossas vidas sejam muito afortunadas, não reconhecemos isso — ou, se o fazemos, é apenas superficialmente. Por exemplo, noventa por cento pode ser maravilhoso, enquanto dez por cento é difícil. Mas notamos apenas os dez por cento e isso domina nossos pensamentos.

Não estamos aptos a apreciar a felicidade em nossas vidas. Mudar isso não é difícil, mas requer que olhemos para além de nossas próprias circunstâncias.

Precisamos olhar para as condições da humanidade — para a fome, a guerra, a doença e a morte que existem ao nosso redor, e ainda mais longe, para as condições dos seres através da existência. Se nos colocássemos no lugar daqueles que estão sofrendo, teríamos grande compaixão por eles.

O propósito disso não é fazê-lo sentir-se mal, mas fazê-lo entender o quão afortunado você é. Uma vez que você tenha se colocado no lugar dos outros, uma vez que você tenha imaginado o que eles sentem, você percebe que a sua própria vida não é tão ruim. É verdade que você tem dificuldades na sua vida, mas há uma escala de dificuldade de um a dez. Você pode determinar onde você está nesta escala — e descobrir onde suas dificuldades realmente jazem — apenas se você entender o sofrimento de todos os seres.

Quando você olha para as condições dos outros, você sente compaixão. Compaixão significa desejar que o sofrimento dos outros possa acabar. Ter compaixão cultiva boas qualidades dentro de você e lhe ajuda a perceber a sua própria boa fortuna. Seus problemas, embora reais, não são esmagadores; você pode lidar com eles. Saber isso liberará algo do estresse e da tensão na sua vida.

Se você contemplar como é estar na pele dos outros seres e então voltar à sua própria experiência de realidade, você encontrará tranqüilidade na mente — um lugar onde há conforto e calma, onde você percebe que os seus problemas não são tão esmagadores. Deixe sua mente descansar nesta calmaria tanto quanto dure. Quando a agitação, as inquietações e preocupações surgirem de novo, volte seus pensamentos de volta às condições dos outros. Então, vá ao lugar de calma e relaxe. Esse é um tipo de meditação.

A meditação tem dois propósitos: remover a delusão da mente e então acentuar o que é natural na mente. Muitas pessoas pensam que meditação significa limpar a lousa da mente e sentar quietamente sem pensamentos, até que experimentem algo agradável. Este tipo de meditação pode ser feita por um curto período de tempo, mas há muito mais do que isto a ser feito. Uma mente descansada e confortável é algo que cultivamos. Não é um estado de relaxamento que impomos à força numa mente perturbada.

Essencialmente, há duas coisas que nos sobrecarregam e nos causam uma falta de paz: medo e esperança. Essas emoções estão constantemente nos empurrando e puxando em uma direção e depois em outra. Tememos isso ou queremos aquilo todo o tempo. Sentar em quietude por um pouco de tempo ajuda, mas não produz mudança durável.

O que produz uma transformação profunda começa com a contemplação. Nossa mente ordinária é como uma fita tocando num gravador. Já foi gravada com os pensamentos e com a fala de todos a nossa volta — nossos pais, nossos professores, nossos colegas de trabalho. Todas as nossas experiências de vida estão lá na fita. Quando sentamos e meditamos por um instante, é como colocar o gravador na "pausa". Mas logo que paramos de meditar — tão logo o botão de "pausa" é desapertado — o mesmo velho barulho começa a tocar de novo pela nossa mente, e novamente somos empurrados e puxados sem socorro pela esperança e pelo medo.

É por isto que é importante regravar a fita. Se você é uma pessoa raivosa, você encontrará muitas coisas na sua vida para justificar sua raiva. Se você é uma pessoa triste, você encontrará muitas coisas na sua vida para justificar sua tristeza. Mas se você se concentrar em algo suficientemente mais forte, você esquecerá estas coisas. Por exemplo, se você se envolve em pintar ou olhar uma bela flor, sua mente estará ocupada por um momento e você se esquecerá de todas as coisas que estavam lhe fazendo ter raiva ou tristeza. Por um momento, elas escorregarão da dianteira de sua mente. Mais cedo ou mais tarde, ainda assim, elas voltarão.

Através da contemplação, entretanto, você pode regravar a fita e então criar mais paz na mente. Então, mesmo quando a fita estiver rodando, o som será agradável ao invés de desagradável e não lhe incomodará. Você não terá de desligá-lo.



* dedicado a uma grande amiga Carolina Buainan.
 

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